Senhor francês

Eu podia tentar decifrar sua língua durante um dia todo. 
Todos os dias. 
C’est la vie. 
Esperar uma surpresa invadir meu dia pela sua boca. 
Je suis arrivée. C'est la deuxième fois. 
Ne me quitte pás. 
Et moi?
Je suis avec toi pour toujours. 
Pour toujours.

Cartão-postal

Ouvir Rita Lee cantando a despedida assim sem o menor sentimento de culpa me faz lembrar o dia que você foi embora. Projeções de um rosto-branco-sem-remorso-de-estar-indo-embora-pra-sempre num fundo preto. A boca mexendo suavemente ao perguntar “Pra que sofrer com despedida?” Quase dá para perceber a desilusão da vida no meio de suas caretas ou um sorriso vermelho e irônico quase abrindo para uma gargalhada. Inevitável. Parece querer começar a rir de mim e do meu rosto-meio-triste-de-quem-ainda-vai-encontrar-no-adeus-a-esperança-escondida. Vamos rir do que é triste. Eu simplesmente não consigo parar de sofrer, Rita.

Cercada do que não existe

Ontem passou tão rápido que passou - e ficou - pela minha cabeça que aquilo não era amor. Eu vim de um lugar que não tem nome e estou indo, acompanhada de tristeza, para lugar nenhum. Ontem eu dormi preparada para morrer, com as duas mãos repousadas no meu peito e a respiração quieta demais. Compreensivelmente triste e quieta, eu rezei. Rezei para minha vida acabar daquele jeito: com a sensação de que o amor não existe, de que a morte chega com a noite e de que eu acredito em Deus.