So clean.

Saudade na beira do peito
faz apertar a solidão
e afrouxa o coração
que estala de vontade.

É coisa sua.

É coisa sua
isso de me deixar nua
me pôr de quatro
me colocar de costas
me fazer de brinquedo
e depois - rindo
ir embora.




Música: Relator - Scarlett Johansson

Clamor.

Do furor
das flores
ouve-se:
gotas de chuva!

afã.

chega
de flores
de festa
de cheiro
de cor.

agora
vem e
toca em mim.

“As pessoas dos livros”

Vivo dentro de um livro de ficção.
Sou um romance mal terminado com gostinho de começo.
Uma frase que cabem duas solidões.
Eu sou aquela de muitos nomes.
Muitas vontades. Eu sou maior que a vida real.
Sou aquela que escapa de um tiro na porta do metrô
e perdoa por amar demais.
Tenho a cabeça cheia de erros -
todos vociferando como um relógio a tiquetaquear em noites de silêncio -
tenho um coração que dói [la-te-ja] mais que a dor de um parto.
Mas eu posso. Sou ficção. [De Manoel ou de Fernanda]
Sou aquela que pode. Que faz.
Sou aquela que é. Sou o que sou. Sem medo

e nada mais.

Platonices.

Um dia Adélia,
no outro Fernanda,
no outro a Martha,
e até o meu querido Caio,
que mal conheço.

Coração livre é assim.
Cada dia suspira por um.

Quês.

Quando silencia
qualquer ruído vira alarde.
Quando a solidão me faz companhia
qualquer amor grita.



[no meu peito]




Ana Cañas - Aquário.

Coração bêbado II

Meu coração bebeu demais
tomou porres de você e
agora soluça esse amor
D e s
c o m
p a s s a d o.

Logo vi.

Não tem conserto
este meu desejo
de te querer
todo minuto
cada segundo.
Logo vi
que era pra ficar
martelando no peito
feito coisa pra sempre.
Logo vi.

"guardo inteira em mim a casa que mandei um dia pelos ares"

Tristes minutos determinam o inicio da minha dor. Está chegando a hora do fim. Fecho os olhos na esperança de ouvir distante o murmúrio da lua se colocando entre as estrelas. Me encaro no vidro embaçado pelo meu próprio fôlego e deixo cair sobre meu peito meus dedos encharcados de aflição. Insisto em buscar uma fresta fresca para repousar meu tormento. Existe dentro de mim um buraco que fica entre a pele das costas e a pele do peito. Não há sangue frio correndo e nem batimentos. Existe lá dentro meus gritos ressonando em total furor. Canso um pouco da minha própria presença. Deito na cama e, sem permitir que meus cílios se encostem, durmo o sono dos injustiçados pelo amor.

começo.

O café está pra terminar
as luzes do dia pra acender
as cortinas pra se abrirem
as gavetas ainda estão vazias
as palavras nem se falam.
eu, sentada à mesa, tentando começar
quiçá com vontade,
sentindo a peso do mundo. – como machuca!

Alguém.

Brinco com meus eus
nos seus.
Embolo nossas pernas,
te faço um carinho
e acredito no amor.

Abrigo obrigatório.

Invento sua presença
dentro do buraco do meu peito.

Explicação lacônica da falta de um sorriso:

Saudade.

tudo cinza.

estou pálida.
fria.
em minúsculas.
sem palavras, nem voz.
sem peso.

estou só.

l o n g e d e v o c ê.